Quando inesperadamente o destino ou quem sabe a sorte me lançou o certeiro convite para compor a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, não imaginava nem de longe a realidade do contexto onde reside seu coração maternal. Durante o período em que se desenrolou a I Roda de Conversas Meso-regional da Rede nas longínquas e estranhas, porém aconchegantes terras de Marabá e Redenção, tive o enorme prazer e a satisfação de degustar da grande energia da Juventude dessa região e das diferentes realidades que compõem a região do Carajás. Nesta pequena mostra da realidade local, pude perceber o empenho e a força desses jovens que, apesar de todas as dificuldades conseguiram de forma unida e com um espírito de coletividade sempre reinante, realizar uma das Rodas de Conversas mais belas que pude presenciar nesta minha pouca existência no movimento aids.
O árduo empenho de todos(as) fez emergir diversos anseios latentes, que mesmo com todos os percalços conseguiram expor suas realidades, sem dever em nada a grandes discussão da capital. O que percebi na Região e o que não vê mais em Belém é uma disposição às ações coletivas, à ajuda mútua, a um passar sobre as diferenças e buscar soluções para todos e não de forma individualista. Hoje na capital vivemos um momento em que o movimento social retoma um fôlego a muito perdido, porém esse espírito de mútua cooperação ainda não se desenvolvel, daí se justificam as ações da Rede de Jovens na região metropolitana de Belém, objeto este da minha vinda aqui. Sempre como um movimento de mão dupla, onde a troca de experiências possa ligar as duas regiões num único Estado de fato, em busca de uma melhor qualidade de vida, respeitando sempre as diversidades, mas sem disparidades de oportunidades. Entendendo o Pará como um estado de dimensões continentais, com realidades distintas se comparadas com os demais estados brasileiros no enfrentamento ao HIV/Aids. De modo especial, e pensando na resposta brasileira à AIDS e na qualidade de vida de Adolescentes e Jovens, queremos destacar as iniciativas da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS na promoção de ações de enfrentamento e resposta a epidemia, bem como, na proposição de políticas de inclusão desse segmento populacional em todos os níveis sociais, como forma de garantir a participação dos mesmos em assuntos relacionados a si próprios.
Uma vez estreitados laços sociais e migratórios Metropolitana/Carajás, convidamos a todos para um nó social e cultural num intercâmbio Rede/Navegar, a partir da Teia. Voamos pra Belém no domingo, onde navegar é preciso para que o Pará entenda que nem só da Capital vive o Pará, mas também de Carajás. Naquele espírito “se Maomé não vem à montanha...” sentamos, nos apresentamos e propusemos parceria para fortalecimento deste Território, a partir da paquera já iniciada no Planejamento Participativo da Rede de Jovens. O Grupo Renascer Vidas está conosco no primeiro momento da Tecelagem da Rede de Jovens na região (24 a 28 de março) com foco no I Roda de Conversas, quando pactuamos uma parceria no projeto de elevação do nível de prevenção, assistência, acolhimento e respeito aos jovens que vivem com HIV/Aids e técnico-legal do trabalho produzido por este grupo aqui. Só pra começar, estarão conosco nas Rodas de Conversas jovens e adolescentes das regiões Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Oeste do Pará. Ficará conosco o alargamento da nossa participação e o sentimento de urgência visibilidade, uma vez que ficou mais patente a nossa condição de regiões isoladas no arquipélago Norte, por seu caráter geográfico, histórico e político distanciado ainda da cidadania cultural e social já disponível a todos. Após esse diálogo jovial, aportamos em Redenção na Teia, empoderados mais para o enraizamento da educação para a saúde popular e para a visibilidade do potencial dos Jovens e Adolescentes do Carajás no cenário global do país.
Jocélio Ferreira
sócio-educador e arte-educador em formação